Venda direta é opção ao desemprego

    Em maio, 36,5% dos mais jovens não tinham emprego na Região Metropolitana de São Paulo

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    Desde que perdeu o emprego de auxiliar administrativo em setembro de 2015, Adriano de Souza Ramos mandou 200 currículos. “Foram três meses andando de lá para cá, sem nenhum acerto”, conta. Com 23 anos, Ramos faz parte do grupo onde o desemprego é recorde.

    Em maio, 36,5% dos mais jovens não tinham emprego na Região Metropolitana de São Paulo, aponta o Dieese. É mais que o dobro da média da população. Sem perspectiva de ter carteira de trabalho assinada, ele encontrou na venda porta a porta de produto de limpeza de pintura de carro uma saída para se sustentar.

    Ramos pertence não só ao grupo de jovens desempregados, mas também dos trabalhadores que viram na venda direta um refúgio para sobreviver na crise. Essa tendência já é nítida nos números das companhias de venda direta. Essas empresas, que comercializam de shake de emagrecimento a perfumes, encerraram 2015 com 4,6 milhões de revendedores no País, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd).

    São 100 mil mais do que em 2014, após dois anos de estabilidade.A americana Amway, por exemplo, líder mundial do setor e há 25 anos no Brasil, está na sua melhor fase no País, segundo o presidente Odmar Almeida. Hoje, tem 100 mil revendedores, um recorde, e deve fechar o ano com 150 mil. No mês passado, 6.500 pessoas se tornaram distribuidores, quase o dobro de junho de 2014.

    Almeida diz que a crise, que leva as pessoas a verem na venda direta um plano B para obter renda, e a reestruturação iniciada há três anos explicam o resultado. “A reestruturação favoreceu esse movimento e a crise acelerou.”

    O quadro não é diferente na Herbalife. Com 400 mil consultores, esse número cresceu 34% entre 2013 e 2015. “Tem muita gente procurando na venda direta uma salvaguarda”, diz o diretor de Vendas, Jordan Rizetto. Segundo ele, 42% dos revendedores são homens. “Muitos são pais de família”, observa.

    A maioria masculina já é realidade na Hinode, empresa nacional de venda direta, que tem nos itens de perfumarias seu carro-chefe. Hoje, 60% dos cerca de 65 mil novos consultores cadastrados por mês neste ano são homens. “Temos advogados e a grande maioria são pessoas com ensino superior incompleto das classes C e D. A estimativa é que 40% deles estejam desempregados”, diz o vice-presidente de Vendas, Eduardo Frayha.

    Segundo ele, são pessoas que tiveram alguma ascensão social nos últimos anos, perderam o emprego e não conseguem se recolocar.

    Mudança de hábito

    O predomínio de homens como revendedores de itens de perfumaria e cosméticos, uma área onde normalmente as mulheres dominam, chama a atenção. Ocorre que a venda direta vai além da simples comercialização para parentes e conhecidos.

    Hoje, há uma verdadeira estrutura empresarial atrás do revendedor. Muitas empresas do setor, além de remunerar o representante com um porcentual sobre a venda feita, pagam bônus sobre as vendas da rede de revendedores que ele consegue formar para a empresa.

    É exatamente esse negócio de criar uma malha de revendedores e treiná-los para venderem mais – o que permite a multiplicação dos ganhos – que tem atraído o público masculino, diz a diretora executiva da Abved, Roberta Sayuri Kuruzu. “No marketing multinível, os ganhos vêm mais rapidamente.”

    Do lado das empresas, Roberta observa que a crise também ampliou o número de companhias que começaram a vender diretamente. Das 35 associadas, 7 ingressaram na Abved em 2015 e 4 este ano, até agora. Isso ocorre, segundo a executiva, por causa do custo menor de expansão em relação ao varejo tradicional, pois não exige gastos com aluguel, funcionários, energia elétrica, por exemplo.

    Apesar dessas vantagens, a venda direta não é uma ilha de prosperidade. O setor sentiu a crise no consumo, mas em menor proporção. Enquanto a venda do varejo restrito, que não inclui carros e material de construção, caiu 4,3% em 2015, o faturamento da venda direta encolheu menos de 1%.”O varejo tradicional coloca produtos na prateleira”, argumenta Yoshiaki Shinagawa, dono da Ecotrend, especializada em produtos para veículos.

    Ele argumenta que na venda direta existe todo um trabalho de convencimento que ajuda a potencializar os negócios.

    Internet

    Quem associa a venda direta à aquele tradicional vendedor tocando a campainha para oferecer produtos está muito distante da realidade atual. Com a internet, os vendedores diretos incorporaram tecnologia no negócio e também se tornaram vendedores virtuais. Três meses depois de investir R$ 1,3 mil na compra de produtos para a venda direta, Ramos montou uma página no Facebook.

    Localizava carros abandonados na rua e danificados pelas intempéries e gravava filmes mostrando os efeitos do seu produto para recuperar a pintura. “Montar uma página foi um achado de ouro”, diz.

    Agora, Ramos tira cerca de R$ 4 mil por mês com a venda direta, mas com muito empenho, frisa. Entre contato presencial e via internet, atende de 120 a 200 clientes por mês. “Vendo para cidades que nem sabia que existiam.” Quando era assalariado ganhava R$ 1,2 mil. Ele quer comprar um carro e não pretende voltar ao emprego formal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    Fonte: PEGN 

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